Por volta das 10h40 acordei de repente com a minha cadela a ladrar imenso. Não liguei porque ouvi depois a minha avó a dizer "anda cá, anda cá". Fui tomar banho e arranjar-me para ir trabalhar, quando o meu primo bateu à porta.
Primo: "Sabias que o Kovu foi atropelado?"
Eu: "O quê?" (senti um misto entre o "'tás a gozar" e o "caiu-me tudo ao chão").
Ele repetiu a afirmação: "O Kovu foi atropelado"
Eu: "A sério?"
Primo: "Sim, a Maria viu e pensou "Olha já foi"... tá lá em baixo, anda cá vê-lo".
Enquanto descia as escadas só relembrava as imagens vividas anos antes com a Kiara. Ela deitada na estrada, morta, com a cabeça cheia de sangue. Apesar de estar de saltos altos, parecia que corria de pantufas. Cheguei ao terraço e ele estava lá, deitado no chão.
Cheguei-me ao pé dele e ele arrastou-se para ao pé de mim, respondi-lhe o pedido de festinhas. Pedi/implorei ao meu primo que o levasse ao veterinário. Ele foi um querido e foi. Kovu que faz sempre que está assustado, e arrastou-se para dentro da casota. O meu primo chegou com uma manta, para fazermos de maca, para o pormos no carro. Tentei tirá-lo de lá de dentro mas ele gemia. Fui buscar aquilo que ele mais gosta na vida - comida. Mas ele não comeu... os meus olhos encheram-se de lágrimas porque se não queria comer era porque estava mesmo muito mal. Subi as escadas de volta a casa enquanto mandava mensagens ao namorado, mãe e irmão - Acho que nesta altura ainda não estava completamente em mim, parecia que estava lá mas não estava. O Namorado ligou-me e foi aí que voltei ao meu corpo e desatei a chorar e a dizer que não queria que ele morresse. Por mais estranho que pareça, pedi para que a namorada do meu irmão estivesse em casa para poder ter alguém com quem chorar - não estava. Chorei imenso durante uns bons minutos, mas tinha de me despachar, a camioneta não esperaria por mim e eu não podia faltar ao trabalho.
De óculos escuros, para poder chorar sem atrair atenções lá fui. A mãe ligou-me no caminho e eu só chorava. Estive agarrada o tempo todo ao telemóvel para ver se o meu primo me ligava com notícias...
Por volta das 14h30 recebi um telefonema da minha mãe com o estado da situação: anca partida em três sítios - provavelmente teria de ser operado, sangue na urina, estômago dilatado por causa do embate e urina no fígado, e que teria de ficar 2 dias internado. O veterinário disse que ele teve muita sorte e que era forte e que teria grandes chances de sobreviver e que foi essa robustez, e os seus 11kg, que fez com que sobrevivesse ao acidente. Chorei umas quantas vezes durante a tarde - as pessoas desejavam-me melhoras para a constipação. Saí do trabalho às 19h, mas já não podia ir vê-lo - o horário de visitas terminara às 18h. A minha mãe foi buscar-me ao metro e trouxe-me para casa do namorado.
Hoje fui vê-lo. Na viagem a mãe contou-me como foram as coisas (segundo testemunho da minha avó):
Ela estava sentada no sofá a ver televisão e a Nana começou a ladrar imenso e, porque os meus cães nunca ladram por nada, a minha avó levantou-se para ir ver o que se passava. Viu-o estendido na estrada. Chamou-o e ele arrastou-se, literalmente, até casa. Entretanto ela chamou o meu primo e ele foi-me chamar.
Foi horrível vê-lo ali. Tinha o um ar super triste - o que era estranho porque o costumo dizer que ele tem sempre um sorriso na cara (boca aberta de orelha a orelha, língua de fora, orelhas espetadas para cima e com um andar muito elegante). Tinha a pata ligada - por causa do soro e um cone de plástico na cabeça. Fiquei aliviada quando vi que estava a ser acompanhado por um vizinho meu que está no 3º ano de medicina veterinária. Abri a jaula e comecei a fazer-lhe festinhas. Saí para a minha mãe o cumprimentar mas ele só olhava para mim.
Mãe: "Vai tu para lá, ele não quer nada com ninguém sem seres tu"
Uma médica veio com uma tigelinha com água e disse para lhe darmos se conseguíssemos. Ao fim de alguns miminhos, e começando por molhar os dedos para ele lamber, lá consegui dar-lhe água e comida.
O Gonçalo, vizinho veterinário, disse que podia abrir a segunda porta e eu praticamente me pus na jaula com ele. Arrastou-se e deitou-se no meu colo, sempre com um ar infeliz, mas com melhorias desde que chegáramos. Começou a deitar sangue da patinha, sujando-me, e achei melhor voltar a pô-lo na posição em que estava. Quando o tirei de cima de mim, ele levantou-se e caiu para o lado (por não ter força na bacia). Chegou uma enfermeira e falámos com ela sobre o estado dele. Eu, que estava muito mais aliviada de o ver ali, vivo, a comer, voltei a ficar com o coração nas mãos quando ela disse "fizemos-lhe análises e o nível de glucose estava bom, e tudo o resto também, excepto o fígado e o facto de termos que o "ajudar" a fazer xixi porque ele não faz sozinho. Eu perguntei "Mas...ele vai ficar bem...não vai morrer, pois não?". Ela respondeu-me que ele tem um traumatismo hepático, que o choque do carro fez com que as enzimas, que deveriam situar-se no máximo nos 120, se espalhassem e ele tem mais de 1000, e que eles não sobrevivem sem o fígado. Disse que não podia dizer que ia ficar bem, porque dependia muito da recuperação dele...dependia se os níveis iam baixar até menos de 120 ou não. Por causa disto tudo, vai ter que ficar mais tempo internado - principalmente porque têm que lhe enfiar o tubinho na uretra para lhe retirar o xixi.
Tenho medo...muito medo.
Amanhã vou vê-lo novamente, ver se o facto de nós estarmos lá 20minutos com ele, faz com que a recuperação exista...
Mãe: "Ele adora-te. Tu és a dona dele. Eu posso fazer-lhe festinhas, ele pode gostar da avó, do primo e do mano... mas ele simplesmente adora-te".
E é verdade...lembro-me que tivemos sérios problemas durante a adolescência dele porque cada vez que me vi punha o "batom de fora" e se eu fosse uma cadela ele provavelmente me violaria (lol). Sem contar que eu sou a única pessoa que consegue dar-lhe festinhas e beijinhos no focinho.
É o meu cão...adoro-o tanto...não quero que ele morra...
Tem fé, vais ver que corre tudo bem =)
ResponderEliminarEle é forte, está a ser bem acompanhado, tem uma família que o adora... ele vai recuperar!
Beijinho grande, e festinha no fofo do Kovu**
PS: Ele agora é um candeeiro!!!! ;D
ResponderEliminarCusta imenso estas situações. Os cães são os nossos melhores amigos, porque apesar de nos chatear-mos com eles e de os desiludirmos, eles voltam sempre para nós como se nada se tivesse passado.
ResponderEliminarTambém tenho um cão, bem maior que esse, mas também preto de orelhas espetadas. Neste momento tem 14 anos, está a durar mais do que os irmãos e pais. Acredito que é o amor que ele recebe que o faz continuar e que todo o investimento nele o faz ficar bem.
E o Kovu é exactamente isso. O tempo que passas com ele faz com que ele melhore, e pelo menos se sinta melhor e mais confortável. Tal como nós, os hospitais assustam-nos. E é esperares, seja qual for o final, será sempre o mais acertado e o melhor para ele. E tu és forte e vais conseguir ultrapassar isto :)
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Olha vou amanha às 14h00. Tenho consulta às 14h20. Mas vou mais cedo.
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